Corte do cordão umbical



Depois de ler aqui os comentários ao post sobre a criopreservação, concluí que deveria escrever algo sobre os procedimentos em torno o corte do cordão umbilical.

Como me fui habituando ao longo da gravidez, este é apenas mais um tema sobre o qual pouco ou nada sabemos.

Da mesma forma que as grávidas não podem cheirar flores ou comer uvas e que os bebés podem ficar cegos se a mãe não fizer a raspagem dos pelos púbicos (sim, diz quem sabe que se nascerem de olhos abertos e um pelo lhes entrar no olho podem ficar cegos), também o cordão umbilical tem que ser cortado com a máxima urgência logo após o nascimento ou .... ou ..... bem.... pelo menos em relação à raspagem sempre há a justificação de que pode causar cegueira... em relação ao corte apressado do cordão umbilical nem sei qual é a desculpa esfarrapada.

A verdade é que o recém-nascido recebe nutrientes essenciais ao seu desenvolvimento através do sangue do cordão umbilical.

De acordo com uma experiência relatada no Journal of the American Medical Association (Dra. Eileen Hutton, Universidade de Hamilton) os benefícios do retardamento do corte do cordão umbilical traduziram-se em melhores níveis de ferro no sangue das crianças o que levou a que estas crianças tivessem menos tendência a ter anemia entre os dois e os seis meses de idade.

Mas, se a anemia não é assim muito comum, aqui fica uma informação que pode por os cabelos em pé a muita gente: "Este procedimento também diminuiu os riscos de icterícia, uma patologia comum nos recém-nascidos, que se expressa na cor amarela da pele e do branco dos olhos."
(Bebé com Saúde)

A mesma revista científica (Journal of the American Medical Association) publica o estudo do professor Weeks cujas conclusões (resultantes da observação de 1900 casos de recém-nascidos), indicam que "se o cordão não for cortado logo após o parto, vai permitir a transferência de um volume de sangue equivalente a 21% do volume final no organismo do bebé".

Também o British Medical Journal (BMJ), publicou o estudo de Andrew Weeks - médico de obstetrícia e professor na Universidade de Liverpool - que "defende que manter o cordão umbilical durante mais tempo possibilita a transferência de sangue da mãe para o recém-nascido através da placenta, o que aumenta o nível de sangue rico em oxigénio a chegar aos pulmões do bebé e enriquece a percentagem de ferro no organismo deste." (DN - Agosto 2007)

O mesmo medico refere que retardar o momento do corte do cordão umbilical em casos de nascimentos prematuros ou de cesariana é mais complicado, devido à necessidade de intervenção médica que podem não se coadunar com a espera - mas que seria ainda mais proveitoso para estes bebés. (Diário Digital Agosto 2007)

A Organização Mundial de Saúde, integrou nas suas recomendações para o parto que se retarde o corte do cordão umbilical mas esta realidade ainda não se observa em todos os países. Em França verifica-se o corte do cordão em 90% dos casos ao passo que na Dinamarca apenas em 17% dos casos o cordão é imediatamente cortado. (DN - Agosto 2007) A que se deve esta disparidade? Porque é que, em nome da saúde, se uniformiza tanta coisa na U.E. (desde os utensílios para fazer queijo à forma como se serve o azeite em restaurantes) e nada se faz em relação ao que se relaciona com o parto? Não é de saúde que estamos a falar?

Há também outras questões associadas ao corte do cordão umbilical. É através do cordão que o bebé respira e se este for cortado precocemente estamos a dizer ao bebé que tem que começar a respirar de rompante, pelos pulmões, ou morre. Poucos segundos depois de nascer o nosso filho já sabe o que é a escassez e o medo porque lhe retiramos abruptamente a fonte de oxigénio. Se lhe dermos tempo, os pulmões começarão a funcionar lentamente até que o cordão deixa de ser necessário e deixe naturalmente de pulsar. Esta parece-me uma forma muito mais pacífica de vir ao mundo :)

Em Portugal, não me consta que exista um protocolo a especificar quantos minutos depois de o bebé nascer o cordão deve ser cortado e por isso, cabe aos pais solicitar que seja feito aquilo em que acreditam. É nisso que devemos apostar, devemos estar suficientemente informados para podermos solicitar aquilo que desejamos num momento tão importante como o parto. Esta opção parece-me mais viável do que entregarmo-nos, de braços abertos, a todos os procedimentos hospitalares a que nos queiram submeter.

Sei que, há quem pense que isto é soberba da minha parte e que os médicos "sabem o que estão a fazer" mas, veja-se que os procedimentos hospitalares variam consoante a equipa médica de urgência e não consoante a parturiente e o bebé que vai nascer. Será que esta não é uma informação suficiente para começarmos a questionar tais procedimentos?

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