Sobre a escola inclusiva

A própria organização social faz com que o sistema escolar seja uma permanente implosão que não é capaz de responder às necessidades individuais.

A escola não existe para dar respostas aos alunos, a escolha existe para libertar mão de obra para o trabalho.

As famílias não procuram a escola como meio de aprendizagem, as famílias procuram a escola como a única forma de transmissão de conhecimento e como forma de se libertarem da aducação dos filhos para ficarem livres para as exigências do mercado de trabalho.

Sem trabalho não há consumo, sem consumo não há sobrevivência.

Em pleno século XXI, a escola colmata uma necessidade básica associada à sobrevivência das famílias.

Quando se está em "modo de sobrevivência" não se responde às necessidades que formam o topo da pirâmide.

No ser humano em desenvolvimento, auto-realização, auto-estima, entre outras necessidades, requerem contacto permanente com um cuidador principal e convívio inter-geracional.

A escola constitui um meio totalmente desfasado da vivência comunitária.

A própria concentração populacional e segregação espacial (e funcional) que caracteriza a ocupação do espaço, leva a à sobrelotação das escolas e das turmas.

Todas as estratégias pedagócicas e inclusivas podem ser boas quando as crianças aprendem em comunidade, em contexto. Todas as estratégias pedagógicas e inclusivas tendem a falhar quando se confina, artificialmente, n crianças, num espaço fechado, com apenas um adulto, durante toa a sua vida (dos 6 meses aos 23 anos.... ou mais).

As crianças vivem e crescem entre pares, os jovens vivem e crescem entre pares, os adultos que as acompanham pouco mais podem fazer do que assumir um papel orientador. Não há lugar para a aprendizagem em contexto, para a aprendizagem por imitação que caracterizou a aprendizagem do homo sapiens ao longo de milhões de anos.

A aprendizagem pode-se dar em qualquer contexto, não é necessária a escola para que o ser humano aprenda. A história da humanidade é a prova disso, todos nós, com as nossas multiplas aprendizagens À margem do sistema escolar somos a prova disso.

A escola, por definição, exclui, exclui as crianças e os jovens da vida familiar, dos espaços públicos, do dia-a-dia. Nas nossas vidas não há crianças, estão segregadas na escola em nome da produção e do consumo.

Neste contexto, há quem trabalhe muito para tornar o dia-a-dia escolar mais inclusivo. Esse trabalho é admirável mas esbarra sempre na mais dura realidade: a nossa organização social exclui as crianças. A infância é um entrave à produção e tem que ser confinada. O apelidado desenvolvimento da pó-modernidade é uma miragem. Não há lugar para desenvolvimento quando de exclui o futuro.

Felizmente, em todo o lado, há sinais de mudança.

3 comments:

  1. Como professora, discordo em absoluto desta visão tão "mecânica" da escola como instituição. Como mãe, não me revejo neste papel de delegar na escola aquilo que não é da sua competência. Cada um tem a sua função e são bem distintas; as responsabilidades são bem diferentes. A escola não pode ser encarada como um armazém onde se depositam as crianças e onde elas são formatadas. A escola, na minha humilde perspectiva, é um sítio onde as crianças aprendem e partilham com os seus pares colegas, professores e auxiliares o que é viver em comunidade, o que ser cooperante, ter compaixão, ser sensível à dor dos outros, onde se deve aprender a respeitar o próximo para que nos respeitem a nós. E isto só aprendemos se vivermos com o outro. Claro que neste trajeto há todo um currículo imposto que têm de aprender, mas até ai só aprendem se partirmos daquilo que eles sabem, partindo do "eu", das partilhas dos outros. Só assim faz sentido! Assim se "inclui" tudo e todos, respeitando o seu ser, o seu estar e o seu ritmo. Os adultos não são o centro da escola. Eu é que sou automática e constantemente formatada porque aprendo com eles. Sei que as experiências são diferentes e que estas ditam as nossas opiniões, mas ainda há escolas que não funcionam, pensam ou agem como enumera. Convido-a a fazer uma pesquisa pelas escolas de Lisboa e ver que o que descreveu não existe assim com tanta frequência.

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  2. Olá Sónia,

    obrigada pelo seu comentário. É muito bom saber que há professores que, como eu, querem escolas melhores para as nossas crianças. Espero que o meu filho, encontre muitos professores assim.

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  3. Eu acredito que há muitas escolas melhores do que as referiu. Aliás, acredito que essas escolas são uma minoria! As escolas têm uma função dinamizadora, impulsionadora e de tantos outros adjetivos positivos. A escola deve ser um sítio em que o "eu" é valorizado, onde o "eu" é reconhecido, atendido e ouvido. A escola deve fornecer as ferramentas para que o "eu" pessoal e profissional fique mais fortalecido, mais seguro e consciente das suas capacidades, relacionando-se sempre com o outro. E aqui não há nem bons, nem maus alunos. Há somente meninos que precisam de ser orientados, orientadores, respeitados e respeitadores. Tudo faz muito mais sentido quando se está dentro do ensino e se vive, cheira, sente o que é estar com crianças. Não se pensa, pelo menos eu não penso, em rankings, em competições, em futuros promissores com muito dinheiro. Não! Penso em ver um sorriso, em ouvir um lamento, compreender uma lágrima, sorrir quando sorriem, lembrando sempre como é bom ser criança e como é bom sentir que se tem importância! As escolas deveriam ser um lugar em que as aprendizagens escolares, apesar de terem a sua relevância, não deveriam ser sobrevalorizadas. Há que dar importância ao que tem importância; as crianças como um "eu" e como um "todo"! As escolas são um caminho de passagem, são onde se constroem os alicerces num contexto social mais amplo e variado do que a família. Todo este processo tem melhores resultados, quando a família e a escola trabalham em conjunto. Aí todo o percurso se torna mais clarividente e mais sólido! Acredito na Escola, acredito na minha escola e acredito muito na minha profissão. Agradeço a atenção para ler estes testamentos! São meros desabafos de uma apaixonada pelo que faz. Adoro ser professora. Encaro não como uma profissão mas como uma condição que me torna melhor pessoa!

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